sexta-feira, 13 de abril de 2007

A farra dos sacos plásticos

O Brasil é definitivamente o paraíso dos sacos plásticos. Todos os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico. Nossa dependência é tamanha, que quando ele não está disponível, costumamos reagir com reclamações indignadas. Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico. Outro dia fui comprar lâminas de barbear numa farmácia e me deparei com uma situação curiosa. A caixinha com as lâminas cabia perfeitamente na minha pochete. Meu plano era levar para casa assim mesmo. Mas num gesto automático, a funcionária registrou a compra e enfiou rapidamente a mísera caixinha num saco onde caberiam seguramente outras dez. Pelas razões que explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem. A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico em 1862. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções. Feitos de resinas sintéticas originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme, que já> representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água -retardando a decomposição dos> materiais biodegradáveis- e dificultam a compactação> dos detritos. Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, já justificou mudanças importantes na legislação -e na cultura- de vários países europeus. Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar à sacolamania. Quem não anda com sua própria sacola a tiracolo para levar as compras é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. O preço é salgado: o equivalente a sessenta centavos a> unidade. A guerra contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que obriga os produtores e distribuidores de embalagens a aceitar de volta e a reciclar seus produtos após o uso. E o que fizeram os empresários? Repassaram imediatamente os custos para o consumidor. Além de antiecológico,> ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha. Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de libra irlandesa por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de irlandeses indo às compras com suas próprias sacolas de pano, de palha, e mochilas. Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis. Até dezembro deste ano, pelo menos 2/3 de todos os saquinhos usados na rede serão feitos de um material que, segundo testes em laboratório, se decompõe dezoito meses depois de descartado. Com um detalhe interessante: se por acaso não houver contato com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimento para microorganismos encontrados na natureza. Não há desculpas para nós brasileiros não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. O país que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente) e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do planeta, ainda não acordou para o problema do descarte de embalagens em geral, e dos sacos> plásticos em particular. A única iniciativa de regulamentar o que hoje acontece de forma aleatória e caótica foi rechaçada pelo Congresso na legislatura passada. O então deputado Emerson Kapaz foi o relator da comissão criada para elaborar a "Política Nacional de Resíduos Sólidos". Entre outros objetivos, o projeto apresentava propostas para a destinação inteligente> dos resíduos, a redução do volume de lixo no Brasil, e definia regras claras para que produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos resíduos que descartam na natureza, assumindo o ônus pela coleta e processamento de> materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida. O projeto elaborado pela comissão não chegou a ser votado. Não se sabe quando será. Sabe-se apenas que não está na pauta do Congresso. Omissão grave dos nossos parlamentares que não pode ser atribuída ao mero esquecimento. Há um lobby poderoso no Congresso trabalhando no sentido de esvaziar esse conjunto de propostas que atinge determinados setores da indústria e do comércio. É preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra a ausência de uma legislação específica para a gestão dos resíduos sólidos. Há muitos interesses em jogo. Qual é o seu?

(Por André Trigueiro, pós-graduado em meio ambiente, jornalista, redator e apresentador do Jornal das Dez, da Globonews, desde 1996. Na Rádio Viva Rio AM (1180 kHz), Trigueiro apresenta o programa Conexão Verde, de segunda a sexta, abordando temas sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável)

Nota do Jornal dos Amigos O dia em que as prefeituras das grandes capitais começarem a cobrar por volume a coleta de lixo, o povo irá se educar levando bolsas de feira para os supermercados. Isso porque as embalagens dos produtos formam volumes consideráveis na formação do lixo. Então o consumidor deixará a embalagem e levará somente o produto para casa. O lixo que ficar no supermercado será triado para reciclar, reutilizar e o remanescente orgânico encaminhado para compostagem. Quanto ao saco plástico, alguma ong (quem sabe o Partido Verde) deve fazer campanha junto aos supermercados para que diminuam gradativamente o fornecimento de sacolas, passando a cobrá-las. E vendam, por preços módicos, aquelas antigas bolsas de feira. Essa medida beneficia os donos de supermercado na diminuição de custos com embalagens, com reflexos nos custo das mercadorias vendidas, embora contrarie os interesses das indústrias de sacolas de plástico.

Fonte: ISTO É Movimento Ambientalista Os Verdes de Tapes - RS - Brasil

8 Comentários:

Às 22 de abril de 2007 às 20:07 , Blogger cecília disse...

Vocês já ouviram falar sobre as 8 metas para o milênio? Deem uma olhada. Poderemos fazer um link entre os conteúdos.

 
Às 28 de abril de 2007 às 18:30 , Anonymous Anônimo disse...

Oi estou fazendo um trabalho sobre o aquecimento global e tenho uma duvida, quanto de lixo nos produzimos por dia e se a reciclagem esta melhorando algo?
Espero a resposta!

 
Às 12 de maio de 2007 às 11:07 , Blogger Leandro disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 12 de maio de 2007 às 11:12 , Blogger Leandro disse...

Algumas soluções estão sendo estudadas para a falta de água na Terra. Tem gente até pensando em buscar água em outros planetas,o que fazer para diminuir o desperdício de água.

 
Às 12 de maio de 2007 às 16:11 , Blogger  disse...

Nunca pude imaginar que, o consumo de saquinhos plásticos era tão grande e, com razão: tudo e qualquer coisa que se fasse ou compre, há saquinhos plásticos à sua espera. Pergunta: não havia alguma iniciativa para a arrecadação dessa sacolinha após utilização (para efeitos de reciclagem?!)?

 
Às 18 de maio de 2007 às 06:51 , Blogger Clebão disse...

Mas então, o que fazer para evitar tal excesso? Como retaliar?

 
Às 26 de maio de 2007 às 16:49 , Blogger Unknown disse...

Bom, gostei do blog, quer diser que aqui promovemos a farra do plastico? Deixo uma questão:De que forma eu contribuo para o aquecimento global e efeito estufa? E como eu posso colaborar para ajudar a reduzir isso?

 
Às 3 de junho de 2007 às 12:02 , Blogger Ed disse...

É, precisamos conscientizar as pessoas que papel é bom, plástico mal usado é acumulo nos lixões.

 

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